sexta-feira, 3 de agosto de 2007

LINHA DOS PRETOS VELHOS


Pretos velhos, na Umbanda, são espíritos de velhos africanos que viveram nas senzalas e majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. Sábios, ternos e pacientes, distribuindo o amor, a fé e a esperança aos "seus filhos". São considerados dentro da Umbanda como as grandes almas conhecedoras da espiritualidade e da religião em si.

São entidades desencarnadas que tiveram pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente, apesar da rudeza do cativeiro demonstrando qualidades insuperáveis para suportar as auguras da vida, consequentemente, são espíritos guias, de elevada sabedoria, trazendo esperança e quietude aos anseios da assistência, que os procuram para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omulu. São mandingueiros poderosos, com seu olhar perspicaz, sentado em seu banquinho, fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral suas baforadas para aniquilar os perigosos kiumbas.

São os Mestres da sabedoria e da humildade. Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o Amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito.

Com humildade, apesar de imensa sabedoria, nos auxiliam nesta busca, com conselhos e vibrações de amor incondicional. Também são Mestres dos elementos da natureza, utilizando-a em seus benzimentos.

Vamos resgatar um pouco da história deles. As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda, etc, subjugaram nações africanas, fazendo dos negros, mercadorias, objetos sem direitos ou alma. Decidiram trazer a mão de obra escrava para trabalhar nas terras brasileiras, pois a catequese, e o trabalho indígena, não tinham dado certo. Os negros e as negras, que vieram das terras africanas, trouxeram com eles uma cultura muito forte e uma religião que aqui se firmou e acabou criando as bases para a única religião 100% brasileira - a Umbanda, conforme já comentado em outro texto.

Os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas, principalmente, nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na Inglaterra e França. Os traficantes coloniais se utilizavam de diversas técnicas para poder arrematar os negros. Chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da África. Trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc. Os cativos de uma tribo que fora vencida em guerras tribais, ou corrompiam os chefes da tribo e financiavam as guerras, ou faziam dos vencidos escravos.

No Brasil, os escravos negros chegavam por Recife e Salvador, nos séculos XVI e XVII, e no Rio de Janeiro, no século XVIII. Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os marrins, angolanos, nagôs, ketus, jejás, bantos, cabindos, sudaneses, iorubas, geges, hauçá, minas e malês.

Com a vinda dos negros para o Brasil, trouxeram culturas de várias nações ainda hoje existentes, outras se perderam com o tempo e com a falta de pós e ervas para o seu culto. O desembarque dos negros aqui no Brasil se deu em várias regiões, principalmente na Bahia, mas houve desembarques também no Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Por alguma razão desconhecida, a cultura africana se firmou com muita força nas terras do Norte, onde a presença ainda é muito forte.

A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito caro:
"Em quatro séculos, XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e mortos, de 65 à 75 milhões de pessoas, e estas constituíam uma parte selecionada da população. Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de açúcar. Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a dez anos!

Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês": pau, pano e pão. E reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães–do-mato e proprietários. Em seus cultos, os escravos resistiam, simbolicamente, à dominação.

A "macumba" era, e ainda o é, um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão. As rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão. A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana.

Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi, protegido de Ogum.

Ao desembarque nas terras brasileiras, a catequese por parte dos portugueses e holandeses foi marcante, obrigando os africanos a se dedicarem única e exclusivamente a religião predominante na época, o Catolicismo. Os africanos eram obrigados a jurar lealdade e amor a religião que fora imposta a eles. Mas por mistérios até hoje desconhecidos, tiveram a idéia de ligar os orixás que cultuavam aos santos da igreja católica, fazendo assim um altar com santos e santas para agradar aos senhores de engenho, mais por baixo das imagens (a maioria de barro) existiam os axés e assentamentos dos orixás que por eles eram cultuados. A partir desse momento nasce o Sincretismo.

Para os africanos, Ogum era o deus da guerra na África, fazendo a ligação a São Jorge e assim sucessivamente. Mas enquanto os africanos atribuíam Ogum a São Jorge nas terras do Sul, no Norte a atribuição era dada a São Sebastião e a Santo Antônio. O resultado foi que ocorreram muitas mudanças de sincretismo, existentes até hoje, dificultando o estudo da Umbanda.
Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas mais especializadas, reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, Ventre livre e enfim a Lei Áurea.

Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos antepassados e tornaram-se um elemento de referência para os mais novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África. Eles conseguiram preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.

E assim são os Pretos Velhos da Umbanda. Eles representam a força, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade. São um ponto de referência para todos aqueles que necessitam: curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz.

Eles representam a humildade, não têm raiva ou ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no passado.

Com seus cachimbos, fala pausada, tranqüilidade nos gestos, eles escutam e ajudam à todos que necessitam, independentes de sua cor, idade, sexo e de religião.

Não se pode dizer, que em sua totalidade, que esses espíritos são diretamente os mesmos pretos velhos da escravidão. Pois, no processo cíclico da reencarnação passaram por muitas vidas anteriores foram: negros escravos, filósofos, médicos, ricos, pobres, iluminados, e outros. Mas, para ajudar aqueles que necessitam, escolheram ou foram escolhidos, para voltar a terra em forma incorporada de preto-velho. Outros, nem pretos velhos foram, mas escolheram como missão voltar nessa forma.

É importante esclarecer que o espírito que evoluiu tem a capacidade de se apresentar sob qualquer forma passada, pois ele é energia viva e cheia de luz, a forma é apenas uma conseqüência do que eles tenham que fazer na terra.

Esses espíritos podem se apresentar, por exemplo, em lugares como um médico e em outros como um preto-velho ou até mesmo um caboclo ou exu. Tudo isso vai de acordo com o seu trabalho, sua missão. Não é uma forma de enganar ou má fé com relação àqueles que acreditam, muito pelo contrário, quando se conversa sinceramente, eles mesmos nos dizem quem o são, caso tenham autorização.

Para muitos os pretos velhos são conselheiros mostrando a vida e seus caminhos; para outros, são psicólogos, amigos, confidentes, mentores espirituais; para outros ainda, são os exorcistas que lutam com suas mirongas, banhos de ervas, pontos de fogo, pontos riscados e outros, apoiados pelos exus de lei (exus de luz) desfazendo trabalhos e contra as forças negativas (o mal), espíritos obssessores e contra os exus pagãos (sem luz, que trabalham na corrente negativa, levando os homens para o lado negativo, e à destruição).

Os pretos velhos levam a força de Deus (Zambi) a todos que queiram aprender e encontrar uma fé, sem ver a quem, sem julgar, ou colocando pecados. Revelam que o amor a Deus, o respeito ao próximo e a si mesmo, o amor próprio, a força de vontade e o encarar o ciclo da reencarnação podem aliviar os sofrimentos do karma e elevar o espírito para a luz divina, fazendo com que as pessoas entendam e encarem seus problemas e procurem suas soluções da melhor maneira possível dentro da lei do dharma e da causa e efeito.

Eles aliviam o fardo espiritual de cada pessoa fazendo com que ela se fortaleça espiritualmente. Se a pessoa se fortalece e cresce consegue carregar mais comodamente o peso de seus sofrimentos. Ao passo que se ela se entrega ao sofrimento e ao desespero enfraquece e sucumbe por terra pelo peso que carrega, pois cada um pode fazer com que seu sofrimento diminua ou aumente de acordo como encare seu destino e os acontecimentos de sua vida, pois Jesus mesmo disse: "Cada um colherá, aquilo que plantou”.

Dentro da Umbanda, demonstram a grande Lei do Criador, levando em frente a bandeira: "Ama ao próximo como a ti mesmo". Após de anos de sofrimento e castigos, na Umbanda, prestam a caridade absoluta, esquecendo por completo a encarnação de dor e de miséria pela qual passaram.

São espíritos puros e ocupam a mais alta patente dentro de Umbanda, são grandes guias e mentores espirituais. Não têm correntes, e hoje são espíritos que dominam todas as linhas e conhecem como ninguém os feitiços e macumbas do santo. Rodam o mundo e tem a permissão de Deus para entrar e sair de qualquer mundo ou lugar. Fumam cachimbos e fumos de palha e bebem seu vinho tinto, café sem açúcar e água da chuva.

Dentro de Umbanda podemos citar algumas Entidades conhecidas: Pai Joaquim, Pai José, Pai Jacó, Pai Manoel, Velho Chico, Pai Guiné, Rei Congo, Pai Congo entre outros. As pretas velhas mais conheci das são: Vovó Maria Conga, Vovó Rosa, Vovó Maria Rita, Vovó Cambida, Vovó Catarina, Vovó Benedita entre outras.

Um comentário:

jupellegrino disse...

Minha preta-velha deu seu nome ontem e nao sei se existe mesmo....ela diz ser Vo Berta. Gostaria de saber se existe...podem me ajudar?