quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O trabalho de um grupo espírita - Parte III

A LIBERTAÇÃO
Diante disso, a nossa condição humana é mais ligada ao plano espiritual inferior do que ao superior. É por isso que todas as religiões funcionam no sentido de nos libertarem do apego à matéria, ao corpo, às coisas materiais. Porque sem esta libertação, que é uma libertação lenta, parcial, é preciso que o espírito vá tomando consciência de si mesmo – na proporção que o espírito toma consciência de si mesmo ele vai se libertando do corpo, não se libertando no sentido de desligar-se do corpo, mas no sentido de dominá-lo, de controlá-lo, de submeter o corpo a ele, espírito.
Mas, na maioria das criaturas humanas, na maioria de nós, portanto, o que acontece é que nós estamos, na melhor das hipóteses, em situação de equilíbrio entre corpo e espírito; e o corpo exerce uma função tão grande nas nossas atividades quanto o espírito, embora o espírito seja aquele que comanda o corpo. Mas está comandando e obedecendo, ao mesmo tempo, aos impulsos, aos instintos que procedem da vida material.

Desta maneira, os espíritos bons nos ajudam nesses momentos, mas nós não aceitamos a ajuda, nós damos mais atenção às sugestões dos espíritos maus. O espírito mau me diz: "Jean está rindo de você, você está falando e o Jean o está criticando, está achando graça de você". Eu, em vez de entender que o Jean está rindo porque o assunto tem seu aspecto interessante, já começo a pensar que o Jean tem qualquer coisa contra mim. Aí começa; daí por diante, a coisa vai crescendo, porque eu vou dando ouvidos; os espíritos continuam insistindo, e a coisa vai se prolongando.
Então, é necessário que nós sempre tenhamos em vista que este problema deve estar presente em nosso espírito em todos os momentos em que nos dirigimos para uma reunião do grupo. Porque se nós não estivermos prevenidos, muito mais facilmente nós seremos colhidos na rede das intrigas e das fofocas, por assim dizer, desse mundo espiritual inferior. Esse mundo espiritual inferior se constitui, como nós sabemos, de espíritos ainda carregados de matéria.
O perispírito, o corpo espiritual, como nos ensina o Livro dos Espíritos, é um organismo semi-material. Não é pelo fato de chamarmos de corpo espiritual que vamos pensar que ele se constitui apenas de energias espirituais, é preciso lembrar que ele é um intermediário, ele é um elemento de ligação do espírito com o corpo. Sendo um intermediário, ele precisa ter elementos dos dois planos para ligá-los. Então, esse corpo é constituído de elementos materiais e espirituais em mistura, em fusão.

Ora, quanto mais o espírito se prende às coisas materiais, às condições da vida material, mais o seu perispírito se carrega de elementos materiais; por isso, as entidades inferiores são mais densas, mais pesadas. Vamos tomar o exemplo da própria comunicação mediúnica. O médium recebe um espírito elevado, um espírito bom; ele sente aquela comunicação de uma forma leve, de uma forma sutil, às vezes, de tal maneira, que ele fica em dúvida: será que sou eu mesmo que estou falando? será que isso não são idéias minhas? Porque ele não sente a presença do espírito de maneira grosseira, de maneira positiva, mas sim de maneira evanescente, suave; e ele fica naquela dúvida. Mas, se logo em seguida vem um espírito inferior e o toma, aí ele vê que isso não é dele; porque aquilo pesa no seu corpo, na sua estrutura somática; aquele espírito realmente impregna o corpo do médium de vibrações densas, pesadas e ele sente a presença. O espírito comunicante o domina e, às vezes, toma conta dele mesmo, a tal ponto que é preciso que haja um socorro exterior para que ele reaja contra aquele espírito.

Então, dá para percebermos bem a situação em que nos encontramos diante desse problema. Os espíritos superiores estão sempre nos procurando, nos ajudando, nos cercando com suas sugestões boas, com suas boas vibrações, mas nós estamos mais aptos a atender as sugestões e vibrações dos espíritos inferiores, porque eles estão mais ligados à nossa natureza humana. E essas batalhas vão se prolongando.

ORAI E VIGIAI

Nos grupos onde não há aquilo que Jesus recomendou, oração e vigilância, facilmente os espíritos inferiores conseguem levar o grupo à dissolução, e se desmancham, por assim dizer, todas aquelas estruturas que foram criadas lentamente pelo grupo, no sentido de dar às sessões um condicionamento que favoreça o afastamento das perturbações, das obsessões, que restabeleça o equilíbrio das pessoas. Então, é preciso lembrarmos sempre disso, termos sempre em mente este problema quando nos dirigirmos para o grupo.

No começo das nossas reuniões — as pessoas que acompanharam desde o início se lembram —, nós tínhamos, às vezes, invasões de espíritos perturbadores, espíritos que tomavam quase todos os médiuns da mesa, pois queriam dominar a sessão, tentavam mistificações grosseiras – o início dos trabalhos era o momento daquele ataque agressivo; eles estavam dentro daquela tática de iniciar primeiramente de maneira agressiva, porque essa tática dá resultado imediato. Quando eles desfecham esses ataques, assim, coletivos e agressivos, atacando imediatamente os médiuns, tumultuando os trabalhos, assustando as criaturas, se o grupo não está bem estruturado e se as pessoas que pertencem ao grupo não são capazes de compreender que aquilo é uma ameaça e não, na realidade, uma prova do poder dos espíritos inferiores, que tudo não passa de uma ameaça, uma tentativa de atemorização, se não são capazes disso, o grupo se dissolve logo, porque a turma pensa: "aquele trabalho está uma bagunça, ninguém entende, os espíritos vêm, fazem o que querem, saem quando querem". Eles tentaram isso no nosso grupo, como tentam em todos os grupos.

Depois, eles foram sentindo que aquilo não dava certo, porque não atemorizou ninguém; nós continuamos firmes, não ligamos, aceitamos. Houve uma ocasião em que eu estava sentado aí na ponta da mesa e o espírito chegou a me atrapalhar a voz, me agrediu por traz com tanta violência, que a minha voz titubeou. Eu firmei o pensamento, continuei, a voz se restabeleceu, ele deu uma risada, e nós continuamos o trabalho. Se a gente se atemoriza eles tomam conta. Mas, quando eles percebem que essa tática não deu resultado, que não adianta continuar, mesmo porque eles têm também uma reação mais forte do lado de lá, os espíritos vêem que eles estão causando prejuízos sérios ao trabalho e começam a agir no sentido de afastá-los. Então, eles mudam de tática para evitar isso, evitar a reação, e passam a agir mansamente, subterraneamente, de maneira mais jeitosa para perturbar, criar perturbações. Isto está se passando agora no nosso grupo. Estou falando nisso porque está se passando, está havendo vários pequeninos casos que vão surgindo e que nós sabemos de onde vêm.

Então, é necessário que nós estejamos alertas contra isso, para poder evitar. Quando Jesus recomendou orai e vigiai, Ele nos deu a arma para a defesa contra isso. Ao ler, por exemplo, os livros que tratam do Cristianismo primitivo, nós vemos acontecia isso com os primeiros cristãos, e era muito freqüente. Daí a lição de Jesus, daí o seu ensinamento. Porque um pequeno grupo de trabalho que os cristãos formavam, não tinha naturalmente o nome de Espiritismo, mas era Espiritismo, porque era a própria prática mediúnica; eles oravam e recebiam as comunicações, como nós sabemos, recebiam o espírito, como eles diziam; muitas vezes apareciam espíritos agressivos, que negavam a existência do Messias, a existência de Jesus. Diziam que Jesus era um embusteiro, um charlatão, que descriam de Deus e procuravam criar tumulto nas sessões. A história do Cristianismo primitivo nos mostra isso. E, os livros de Emanuel, lembrando aqueles tempos, fazem referências a isso, a essas situações.

OS ESPÍRITOS BONS

Mas havia também os espíritos bons. Daí aquela divisão entre o espírito que vem de Deus e o espírito que não vem de Deus, que nós vemos na epístola de Pedro. Ali está bem nítida aquela expressão: "Verificai se os espíritos vêm de Deus, porque se não vêm de Deus, são espíritos perturbadores; os que vêm de Deus são espíritos bons". É claro que essa expressão "vêm de Deus" tomou um sentido místico, como costuma tomar nas organizações religiosas; e se perdeu aquele sentido real, positivo, que tinha no tempo, ou seja, o espírito que vem de Deus é o espírito bom, e o espírito que não vem de Deus é o espírito mau; mas isto não quer dizer que seja o diabo, o demônio, que na verdade não existe, são os espíritos maus, como há criaturas más.

Então, Jesus aconselhava: "Orai e vigiai". Orar por quê? Porque quando nós oramos, nós estamos nos colocando numa condição vibratória, que nos permite superar o nosso condicionamento humano, inferior, apegado à matéria, dominado em grande parte pelo corpo material. O ser material do corpo não influi tanto em nós naquele momento, porque nós estamos vibrando, integrados na nossa natureza espiritual e, ao orar, nós estabelecemos então uma sintonia com os espíritos bons, nos ligamos a eles, nós, por assim dizer, franqueamos a nossa mente às sugestões boas dos espíritos bons. Orando, nós, então, nos colocamos nesta posição favorável, que permite a ação maior dos espíritos que se organizaram para nos defender, a ação maior deles sobre nós dentro da estrutura do grupo.

E vigiar por quê? Estar vigilantes contra as sugestões más, contra essas influências, contra essas idéias que surgem como: "Olha, fulano está olhando você com mau jeito; fulano diz tal coisa para atingir você". Parece que não é nada; nós não percebemos que aquilo vem de fora, temos a impressão de que está surgindo na nossa própria mente: "Eu estou percebendo isto", mas não estamos percebendo coisa alguma, nós estamos recebendo sugestão de outro. Mas, se estivermos vigilantes, nós percebemos que aquilo vem de fora.

Geralmente, nós não prestamos atenção no fluxo dos nossos pensamentos. Há duas correntes bem distintas de pensamentos, uma é o pensamento próprio, nosso, aquele que é gerado, por assim dizer, por nós mesmos na nossa mente; é o pensamento que resulta da nossa própria atividade mental. O outro é o pensamento que nós captamos, que vem de fora – e nós recebemos uma infinidade de pensamentos que vêm de fora, não são somente os pensamentos dados pelos espíritos, são também os pensamentos dos homens, das criaturas encarnadas; nós vivemos num oceano de pensamentos.

PENSAMENTO POSITIVO

Podemos fazer uma imagem lembrando do oceano de ondas artesianas dentro do qual nós estamos; não estamos ouvindo música, mas basta ligar um aparelho de rádio e sintonizar uma onda, que pegamos um programa de rádio, então, o programa está aqui presente. Não pegamos porque não temos a sintonia com o programa. Os pensamentos estão ao nosso redor em grande quantidade, pensamentos emitidos por milhões de pessoas que podem nos atingir. As pesquisas, por exemplo, no campo da Parapsicologia, sobre a telepatia demonstraram – isso é muito importante para nós, porque é uma prova científica verificada por homens que não estavam cuidando de espiritualidade, estavam cuidando da verificação de fenômenos que eles consideravam inicialmente como materiais; só depois é que perceberam que não eram materiais, que o indivíduo pode emitir um pensamento aqui, neste momento, e ser captado lá no Japão por um indivíduo que fala uma língua completamente diferente e que, no entanto, capta o pensamento que emitimos aqui. E mostraram que essa transmissão não respeita nenhum limite espacial nem temporal, isto é, eu posso emitir um pensamento hoje e ele ser captado daqui a um ano por aquele sujeito lá – os pensamentos têm uma permanência que não se pode explicar em termos de apreciação física; eles permanecem e giram, formando um verdadeiro oceano de pensamentos em torno de nós. Então, nós recebemos um mundo de pensamentos, muitos deles são bons, outros negativos, de toda espécie.

Mas, a nossa mente é como um aparelho rádio receptor; se nós a mantivermos numa vibração negativa, recebemos muito mais os pensamentos negativos; se nós nos mantivermos numa situação constante de irritação, de inquietação, estamos recebendo pensamentos de inquietação e de irritação. Mas se mantivermos pensamentos bons, construtivos, se procurarmos olhar as coisas com otimismo, encarar o mundo de uma maneira mais favorável, então, nós nos ligamos a pensamentos bons e aqueles que nós recebermos serão bons. Ou seja, a nossa mente é como um aparelho de rádio, que pode ser sintonizado com a estação que nós quisermos. Por isso, vêm aí esses livros: O Poder do Pensamento Positivo, A Força do Pensamento Positivo, A Importância do Pensamento Positivo. Em outras palavras, o pensamento positivo é reconhecido universalmente, tanto no campo das religiões, no campo da Psicologia, como realmente um conjunto de forças bastante favoráveis ao homem, construtivas para a sua vida.
A oração permite que nos liguemos a esses pensamentos positivos. Quando estamos orando, estamos pensando naturalmente em Deus, ou nos espíritos superiores, em espíritos amigos; estamos então numa sintonia espiritual favorável. Mas a vigilância é aquele momento em que aprendemos a discernir os nossos pensamentos, ver o que nos vem de fora e o que vem de nós mesmos. Muita gente pergunta como podemos separar aquilo que vem de nós mesmos e aquilo que vem de fora. Não é fácil de começo, mas na proporção em que vamos aprendendo a lidar com o pensamento, tudo na vida é aprendizado, nós vamos aprendendo naturalmente a fazer essa distinção. Porque o pensamento que brota de nós não surge de repente, não dá um estalo na cabeça, como se costuma dizer: "Tive uma idéia!".

Cuidado com essa idéia, ela surgiu de repente, cuidado com ela! O pensamento que ocorre
inesperadamente é sempre uma sugestão, ou é uma sugestão humana, ou é uma sugestão de
espírito.

J. Herculano Pires
Palestra, proferida em 19/10/1974

O trabalho de um grupo espírita - Parte II

OS ESPÍRITOS PROTETORES

Então, podemos dizer, e os espíritos protetores, aqueles que estão organizados para nos amparar, nos auxiliar e nos defender? Não fazem nada? Sim, eles também fazem, também trabalham, também se aproximam de nós e procuram tirar aquelas sugestões, procurando nos dar idéias boas. Mas acontece que nós somos criaturas humanas ainda bastante imperfeitas, nós não precisamos muito para ver a nossa imperfeição. Se não quisermos olhar para nós mesmos, o que não é muito conveniente, muito agradável, olhamos para os outros, olhamos para a humanidade em geral; basta pegarmos um jornal e lermos o noticiário, ou então ligarmos a televisão ou o rádio e vermos o que vai pelo mundo, como procedem as criaturas humanas.
Então, vemos como as nossas imperfeições são grandes, como são muitas, são imperfeições que não decorrem absolutamente da nossa natureza espiritual, decorrem apenas da nossa condição humana na Terra. Porque nós, como espíritos, não somos, na verdade, imperfeitos, nós somos perfeitos – esse é um problema um pouco difícil de se tratar, mas vamos ver se conseguimos dar uma idéia.

Nós somos perfeitos porque Deus nos cria como potências. Deus não nos cria em ato, ele nos cria com potencialidades. Sendo assim, nós temos, no nosso espírito, todas as condições necessárias para a perfeição, que está no nosso espírito. Mas é preciso que estas potencialidades desabrochem, transformem-se em realidade. E nós, então, mergulhamos na matéria, tomamos um corpo denso e nos ligamos a outro ser, que não o nosso próprio ser. Eu sei que o assunto é meio complexo, mas qual é esse outro ser que não é o nosso próprio ser? É aquilo que, no Livro dos Espíritos, Kardec designa como o ser do corpo. Isto é muito interessante, porque é uma realidade para a qual pouco se atenta, pouco se dá a atenção.

O CORPO

Nós somos um ser, mas um ser espiritual, e o nosso corpo não é, como nós costumamos pensar, um instrumento amorfo, indiferente, um instrumento tal qual um aparelho de metal. Não, o nosso corpo é constituído de elementos carnais, como toda estrutura necessária para o funcionamento do corpo animal, mas é dotado de vitalidade própria, ou seja, o princípio vital está no corpo.

Então, este corpo representa um organismo vivo, um instrumento vivo, ele tem a sua própria vida, que lhe é dada naturalmente pela condição dupla da matéria – nós sabemos que toda matéria é matéria e espírito, então, existe aquela vitalidade natural do corpo. Essa vitalidade natural do corpo, e todas as conseqüências hereditárias, todas as heranças que o corpo adquire da evolução do homem na Terra estão presentes neste ser que é o corpo, o ser do corpo.

Então, nós representamos uma junção de dois seres. Por isso é que eu digo que a própria existência nossa já é um ato mediúnico, porque o corpo é o nosso médium; nós estamos, na verdade, nos apossando de um corpo, dominando esse corpo para nos comunicarmos com os outros no plano material, no plano social. Portanto existe uma nítida relação deste processo com o processo mediúnico.

Assim sendo, esta duplicidade que nós somos se torna bastante complexa e traz para as nossas situações espirituais todas as restrições advindas da condição material, animal, do corpo. As nossas imperfeições, portanto, como criaturas humanas, não são apenas as imperfeições decorrentes da falta de desenvolvimento das potencialidades do espírito, são também as imperfeições decorrentes da união com um corpo de natureza animal, um corpo que traz em si toda a herança animal da Terra, do planeta em que nos desenvolvemos.

O trabalho de um grupo espírita - Parte I

Vamos tratar mais precisamente de um assunto prático, relacionado com nosso trabalho comum no grupo. É o seguinte: nós sabemos que toda vez que se organiza um grupo espírita de trabalho, acontecem duas coisas no mundo espiritual; devem acontecer outras que não sabemos. É que lá se organiza também, ou já está organizado antes do nosso aqui, um núcleo de auxílio daqueles espíritos que vão colaborar conosco, que vão nos auxiliar. Esses espíritos se dividem, aparentemente, em dois grupos: uns são aqueles que não se manifestarão, são os espíritos que dirigem, que superintendem o trabalho do grupo e que procuram orientá-lo através de intuições e de mensagens, ou conselhos, dados por outros espíritos. E temos o segundo grupo, que são esses outros espíritos mais ligados a nós, que se manifestam, os que se comunicam na sessão, ajudando-nos, trazendo-nos seus auxílios, seus conselhos, sua orientação e assistindo-nos mesmo na doutrinação e nos trabalhos de desobsessão.

Mas, de outro lado, isso acontece naturalmente no plano dos espíritos mais elevados. Do outro lado, o dos espíritos mais inferiores, também se organiza um grupo que tem a finalidade de atacar o grupo espírita formado aqui na Terra, e de procurar destruí-lo. Isso é constante, é uma rotina; sempre que se organiza um trabalho espírita acontece isso. Então, há os dois lados — nós estamos no mundo relativo —, o do mundo do bem e o do mundo do mal, os dois lados estão em ação.

AÇÃO DOS ESPÍRITOS NEGATIVOS

Geralmente, a ação dos espíritos que querem perturbar e destruir começa, às vezes, através de atitudes agressivas, violentas, bem visíveis, bem palpáveis; mas quando eles vêem que essa atividade não produz o resultado necessário, eles passam a usar outra tática, a tática de infiltração silenciosa, sem alarde, procurando criar problemas pequeninos, que vão se espalhando aos poucos no meio do grupo espírita. Eles usam também uma tática de sugestão interessante, que é a de criar o desânimo nas pessoas que freqüentam o grupo e, às vezes, não obtém exatamente os resultados que desejam, porque estes, naturalmente, nem sempre são imediatos; às vezes são, mas às vezes demoram muito a se manifestar; então, eles usam também a tática do desânimo, fazem com que as pessoas desanimem e se afastem das reuniões.

Além dessa tática do desânimo há uma outra, que é a de criar certos atritos, provocar desavenças ou suspeitas no grupo, insinuando-se um pensamento num indivíduo de que o outro não está gostando da cara dele – parece uma coisa absurda, que a pessoa repele, mas aquilo, às vezes, vem novamente, com insistência. Ao mesmo tempo em que acontece isso, as entidades espirituais negativas procuram também provocar naquele outro, que está sendo visto como de má cara, através de sugestões, de certos assopros, o Espírito Santo de orelha, certas expressões, maneira de tratar, às vezes, um olhar, um tom irônico para o outro, que vão incentivando esse pensamento. Então, vão surgindo as pequenas desavenças, os aborrecimentos e as antipatias dentro do grupo.

E, se nós não estivermos alertas, isto é suficiente para destruir um grupo, porque dali a coisa vai crescendo – me lembro agora uma imagem, uma figura de Homero na Ilíada; ele dizia que, na frente das tropas gregas que avançavam para a batalha, ia a discórdia, e que, no começo, a discórdia era pequenininha, era como uma menininha que ia correndo na frente dos soldados; mas, na proporção que as tropas iam avançando, a discórdia ia crescendo, crescendo e quando chegava a hora da batalha, muitas vezes ela destruía as tropas antes do inimigo. É uma imagem bem expressiva, que nos dá idéia daquilo que acontece em todas as aglomerações humanas, particularmente em grupos de trabalho, grupos que têm finalidade certa, precisa e séria; aí essas forças negativas sempre se infiltram e trabalham incessantemente.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A ATUAÇÃO DOS EXUS

Os Exus, em geral, sob a nossa ótica, não são bons nem ruins, são apenas executores da Lei. Ogum, responsável pela execução da Lei, determina as execuções aos Exus.
A maneira dos Exus atuarem, às vezes nos chocam, pois achamos que eles devem ser caridosos, benevolentes, etc. Mas, como podemos tratar mentes transviadas no mal ? Os exus usam as ferramentas que sabem usar : a força, o medo, as magias, as capturas, etc. Os métodos podem parecer, para nós, um pouco sem "amor", mas eles, sabem como agir quando necessitam que a Lei chegue nas trevas.
Eles ajudam aqueles que querem retornar à Luz, mas não auxiliam aqueles que querem "cair" nas trevas.
Quando a Lei deve ser executada, Eles a executam da melhor maneira possível doa a quem doer.
Há um ditado muito providencial que diz : "Cuidado com o que se pede a um Exu, pois poderá ser atendido."Ou seja, se um Exu se manifestar e pedirmos que ele faça o mal, ele poderá faze-lo, mas ou porque ele sabe que esse mal retornará a quem o pediu ou porque não tem noção do que está fazendo (um exu pagão).

Os exus, como executores da Lei e do Karma, esgotam os vícios humanos, de maneira intensiva. Às vezes, um veneno é combatido com o próprio veneno, da mesma maneira que a picada de uma cobra venenosa. Assim, muitos vícios e desvios, são combatidos com eles mesmos. Um exemplo, para ilustrar :

Uma pessoa quando está desequilibrada no campo da fé, precisa de um tratamento de choque. Normalmente ela, após muitas quedas, recorre a uma religião e torna-se fanática, ou seja, ela esgota o seu desequilíbrio, com outro desequilíbrio : a falta de fé com o fanatismo. Parece um paradoxo ? Sim, parece, mas é extremamente necessário.

Outro exemplo é o vicio às drogas, onde é preciso de algo maior para esgotar este vicio : ou a prisão, a morte, uma doença, etc.

A Lei é sempre justa, às vezes somente um tratamento de choque remove um espirito do mal caminho. E são os exus que aplicam o antídoto para os diversos venenos.

Os Exus, estão, ligados de maneira intensiva, com os assuntos terra-a-terra (dinheiro, disputas, sexo, etc.). Quando a Lei permite, Eles executam aos diversos pedidos materiais dos encarnados.
Os Exus tem sob o domínio todas as energias livres, contidas em : Sangue, cadáveres, esperma, etc. Por isso, seus campos de atuação são : cemitérios, matadouros, prostíbulos, boates, necrotérios, etc. Eles lá estão, porque frenam (bloqueiam) as investidas dos kiumbas e espíritos endurecidos que se comprazem nos vícios e na matéria.

O kiumbas, seres astutos, conseguem se manifestar como um exu, num terreiro muito preso às magias negras e assuntos que nada trazem elevação espiritual. Ao se manifestarem, pedem inúmeras oferendas, trabalhos, despachos, em troca destes favores fúteis. Normalmente eles pedem muito sangue, bebidas alcóolicas e fumo. Chegam a enganar tanto (ou fascinar) que fazem as mulheres que procuram estes "terreiros", pagarem as suas "contas" fazendo sexo com o médium "deles". Ou seja, eles vampirizam o casal, quando o ato sexual se efetua.
Mas, e os verdadeiros exus deixam ? É uma pergunta que comumente fazemos, quando estes disparates ocorrem. Os exus, permitem isso, para darem lição nestes falsos chefes de terreiros ou médiuns. Como disse, os métodos dos exus, para fazer com que a Lei se cumpra, são variados. Muitas vezes, também, a obsessão é tão grande e profunda que os exus, não podem separar de uma só vez obsedado e obsessor, pois isso causaria a ambos um prejuízo enorme.
Outras vezes, os exus, deixam que isso aconteça, para criar "armadilhas" contra os kiumbas, que uma vez instalados nos terreiros, são facilmente capturados e assim, após um interrogatório, podem revelar segredos de suas organizações, que logo em seguida, são desmanteladas. Alguns terreiros, depois disso, são também desmantelados pelas ações dos exus, causando doenças que afastam os médiuns, as pessoas, etc.

"Ai daquele que provoca um escândalo, mas o escândalo é necessário"