quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O Anjo, o Santo e o Pecador


O pecador escutava a orientação de um santo, que vivia genuflexo, à porta de templo antigo, quando, junto aos dois, um anjo surgiu na forma de homem, travando-se breve conversação entre eles.

O ANJO – Amigos, Deus seja louvado!

O SANTO – Louvado seja Deus!

O PECADOR – Louvado seja!

O ANJO (Dirigindo-se ao santo) – Vejo que permaneceis em oração e animo-me a solicitar-vos apoio fraternal.

O SANTO – Espero o Altíssimo em adoração, dia e noite.

O ANJO – Em nome dele, rogo o socorro de alguém para uma criança que agoniza num lupanar.

O SANTO – Não posso abeirar-me de lugares impuros...

O PECADOR – Sou um pobre penitente e posso ajudar-vos, senhor.

O ANJO – Igualmente, agora, desencarnou infortunado homicida, entre as paredes do cárcere... Quem me emprestará mãos amigas para dar-lhe sepulcro?

O SANTO – Tenho horror aos criminosos...

O PECADOR – Senhor, disponde de mim.

O ANJO – Infeliz mulher embriagou-se num bar próximo. Precisamos removê-la, antes que a morte prematura lhe arrebate o tesouro da existência.

O SANTO – Altos princípios não me permitem respirar no clima das prostitutas...

O PECADOR – Dai vossas ordens, senhor!

O ANJO – Não longe daqui, triste menina, abandonada pelo companheiro a quem se confiou, pretende afogar-se... É imperioso lhe estenda alguém braços fortes para que se recupere salvando-se também o pequenino em vias de nascer.

O SANTO – Não me compete buscar os delinqüentes senão para corrigi-los.

O PECADOR – Determinai senhor, como devo fazer.

O ANJO – Um irmão nosso, viciado no furto, planeja assaltar, na presente semana, o lar de viúva indefesa... Necessitamos do concurso de quem o dissuada de semelhante propósito, aconselhando-o com amor.

O SANTO – Como descer ao nível de um ladrão?

O PECADOR – Ensinai-me como devo falar com ele.

Sem vacilar, o anjo tomou o braço do pecador prestativo e ambos se afastaram, deixando o santo em meditação, chumbado ao solo. Enovelaram-se anos e anos na roca do tempo, que tudo alterara. O átrio mostrava-se diferente.

O santuário perdera o aspecto primitivo e a morte despojara o santo de seu corpo macerado por cilício e jejum, mas o crente imaculado aí se mantinha em Espírito, na postura de reverência.

Certo dia, sensibilizando mais intensamente as antenas da prece, viu que alguém descia da Altura, a estender-lhe o coração em brando sorriso. O santo reconheceu-o. Era o pecador nimbado de luz.

– Que fizeste para adquirir tanta glória? – perguntou-lhe, assombrado.

O ressurgido, afagando-lhe a cabeça, afirmou simplesmente:

– Caminhei.

Pelo Espírito Irmão X

Fonte: "Contos desta e da outra vida", livro psicografado por Chico Xavier

Perdão e Auto Perdão - Parte II


O célebre cientista norte-americano Booker T. Washington, que sofreu perseguições inomináveis pelo fato de ser negro, e que muito ofereceu à cultura e à Agricultura do seu país, asseverou com nobreza: Não permita que alguém o rebaixe tanto a ponto de você vir a odiá-lo. Desejava dizer que ninguém deve aceitar a ojeriza de outrem, o seu ódio e o seu desdém a ponto de sintonizar na mesma faixa de inferioridade.

Permanecer acima da ofensa, não deixar-se atingir pela agressão moral constituem o antídoto para o ódio de fácil irrupção. Sem dúvida, existem os invejosos, que se comprazem em denegrir aquele a quem considera rival, por não poderem ultrapassá-lo; também enxameiam os odientos, que não se permitem acompanhar a ascensão do próximo, optando por criar-lhes todos os embaraços possíveis. São numerosos os poltrões que detestam os lidadores, porque pensam que os colocam em postura inferior e se movimentam para dificultar-lhes a marcha ascensional. São incontáveis aqueles que perderam o respeito por si mesmos e se auto realizam agredindo os lidadores do dever e da ordem, a fim de nivelá-los em sua faixa moral inferior.

Deixa que a compaixão tome os teus sentimentos e envolve-os na lã da misericórdia, quanto gostarias que assim fizessem contigo, caso ainda te detivesses na situação em que eles estagiam. Perceberás que um sentimento de compreensão, embora não de conivência com o seu erro, tomará conta de ti, impulsionando-te a seguir adiante, sem que te perturbes.

Sob o acicate desses infelizes, aos quais tens o dever de compreender e de perdoar, porque não sabem o que fazem, ignorando que a si mesmos se prejudicam, seguirás confiante e invencível no rumo da montanha do progresso.

Ninguém escapa, na Terra, aos processos de sofrimento infligido por outrem, em face do estágio espiritual em que se vive no Planeta e da população que o habita ainda ser constituída por Espíritos em fases iniciais de crescimento intelecto moral.

Não te detenhas, porque não encontres compreensão, nem porque os teus passos tenham que enfrentar armadilhas e abismos que saberás vencer, caso não te permitas compartilhar das mesmas atitudes dos maus. Chegarás ao termo da jornada vitoriosamente, e isso é o que importa.

O eminente sábio da Grécia, Sólon, costumava dizer que nada pior do que o castigo do tempo, referindo-se às ocorrências inesperadas e inevitáveis da sucessão dos dias. Nunca se sabe o que irá acontecer logo mais e como se agirá.

Dessa forma, faze sempre todo o bem, ajuda-te com a compaixão e o amor, alçando-te a paisagens mais nobres do que aquelas por onde perambulas por enquanto.

Perdoa-te, portanto, perdoando, também, ao teu próximo, seja qual for o crime que haja cometido contra ti. O problema será sempre de quem erra, jamais da vítima, que se depura e se enobrece. Pilatos e Jesus defrontaram-se em níveis morais diferentes. A astúcia e a soberba num, a sua glória mentirosa e a sua fatuidade desmedida. A humildade real, a grandeza moral e a sabedoria profunda no outro, que era superior ao biltre representante do poder terreno de César.

Covarde e pusilânime, Pilatos não lhe viu culpa, mas não o liberou, porque estava embriagado de ilusão sensorial, lavando as mãos, em torno da Sua vida, porém, não se liberando da responsabilidade na consciência. Estóico e consciente, Jesus aceitou a imposição arbitrária e infame, deixando-se erguer numa cruz de madeira tosca, a fim de perdoar a todos e amá-los uma vez mais, convidando-os à felicidade.

Perdoa, pois, e auto perdoa-te!

Joanna de Ângelis


Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão da noite de 4 de janeiro de 2005, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia

Perdão e Auto Perdão - Parte I


Perdão e autoperdão: Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo.

Toda vez em que a culpa não emerge de maneira consciente,são liberados conflitos que a mascaram, levando a inquietações e sofrimentos sem aparente causa. Todas as criaturas cometem erros de maior ou menor gravidade, alguns dos quais são arquivados no inconsciente, antes mesmo de passarem por uma análise de profundidade em torno dos males produzidos, seja de referência à própria pessoa ou a outrem.

Cedo ou tarde, ressumam de maneira inquietadora, produzindo mal-estar, inquietação, insatisfação pessoal, em caminho de transtorno de conduta. A culpa é sempre responsável por vários processos neuróticos, e deve ser enfrentada com serenidade e altivez.

Ninguém se pode considerar irretocável enquanto no processo da evolução. Mesmo aquele que segue retamente o caminho do bem está sujeito a alternância de conduta, tendo em vista os desafios que se apresentam e o estado emocional do momento.

Há períodos em que o bem-estar a tudo enfrenta com alegria e naturalidade, enquanto que, noutras ocasiões, os mesmos incidentes produzem distúrbios e reações imprevisíveis. Todos podem errar, e isso acontece amiúde, tendo o dever de perdoar-se, não permanecendo no equívoco, ao tempo em que se esforcem para reparar o mal que fizeram.

Muitos males são, ao próprio indivíduo, feitos, produzindo remorso, vergonha, ressentimento, sem que haja coragem para revivê-los e liberar-se dos seus efeitos danosos.

Uma reflexão em torno da humanidade de que cada qual é possuidor permitir-lhe-á entender que existem razões que o levam a reagir, quando deveria agir, a revidar, quando seria melhor desculpar, a fazer o mal, quando lhe cumpriria fazer o bem...

A terapia moral pelo auto perdão impõe-se como indispensável para a recuperação do equilíbrio emocional e o respeito por si mesmo. Torna-se essencial, portanto, uma reavaliação da ocorrência, num exame sincero e honesto em torno do acontecimento, diluindo-o racionalmente e predispondo-se a dar-se uma nova oportunidade, de forma que supere a culpa e mantenha- se em estado de paz interior.

O auto perdão é essencial para uma existência emocional tranqüila. Todos têm o dever de perdoar-se, buscando não reincidir no mesmo compromisso negativo, desamarrando-se dos cipós constringentes do remorso. Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo, recobrando o bom humor e a alegria de viver.

Em face do auto perdão, da necessidade de paz interior inadiável, surge o desafio do perdão ao próximo, àquele que se tem transformado em algoz, em adversário contínuo da paz. Uma postura psicológica ajuda de maneira eficaz e rápida o processo do perdão, que consiste na análise do ato, tendo em vista que o outro, o perseguidor, está enfermo, que ele é infeliz, que a sua peçonha caracteriza-lhe o estado de inferioridade. Mediante este enfoque surge um sentimento de compaixão que se desenvolve, diminuindo a reação emocional da revolta ou do ódio, ou da necessidade de revide, descendo ao mesmo nível em que ele se encontra.


Fonte: Reformador/Julho 2005

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A Fé


A mensagem é livre, mas o pensamento não. Isto no estado incorpóreo, pois o ser humano, no seu dia a dia, acaba fazendo o contrário, às vezes pensando para falar, e isto no momento da incorporação, não ocorre mesmo aos mais conscientes.

Agora, não seria normal se o médium desligasse sua parte central do cérebro, deixando o seu coração inerte, no estado da incorporação: se assim fosse, não seria uma missão dupla realizada, ou seja, o médium emprestando o seu potencial físico e o espírito aproveitando o mesmo.

Há muitos médiuns, principalmente os conscientes e intuitivos, que na sua insegurança de prática, acaba quebrando o verdadeiro valor da espiritualidade, pois a missão desses, nada mais é do que ser o auxílio prático do espírito. Ser, além disso, ensino e aprendizado, tendo por obrigação de levar aos irmãos que tanto precisam de boas mensagens, a paz na palavra, que não precisa ser só no estado incorpóreo. Se assim faz, ele já não cumpre a sua missão de passar mensagem e energia do bem estar físico e a energia de compreender a mensagem dada pelo espírito do bom astral.

Ainda não compreendo os médiuns que na sua pequenez sabedoria e até mesmo na ignorância da espiritualidade, acham e muitas vezes têm certeza, que seus guias precisam adivinhar a vida de seus irmãos da terra. Não é isso, senhores médiuns. Saibam que o verdadeiro espírito não sente essa necessidade, e sim a necessidade de sentir e não de adivinhar, pois é no sentir que o espírito tenta preencher o vazio físico e o da alma, e não adivinhar somente para confirmar ao irmão e, principalmente, ao médium mesmo, que o espiritismo é força e energia.

Se sentirmos o outro, passamos a conhecê-lo, e nesse conhecer, o bom espírito acaba praticando a caridade.

Senhores médiuns, a maior missão do astral, e esta compete somente a nós, é praticar a caridade da convicção da fé. Esta acaba se findando através de abusos dos médiuns, de espíritos enganosos, que acabam aproveitando do irmão, deixando este na descrença e na melancolia.

Precisamos, portanto, que os médiuns tenham convicção de fé, pois através dela, o médium terá segurança. A fé, senhores médiuns, bate nos conscientes do mediunato* através da verdadeira incorporação, percebendo o valor dos mentores, com os quais os senhores convivem.

* mediunato - do latim medium + actu, nome criado pelos Espíritos, para significar a missão providencial dos médiuns, a ação mediúnica que eles desenvolvem durante a reencarnação.

Espírito Exu Rei das Almas
Templo de São Jorge - MG

Filhos de Santo


Não basta ser médium, e sim educar-se no caminho da mediunidade. Não basta ser bom, mas pregar a palavra bondade.

Não precisa dizer o que faz, mas, sobretudo, corrigir como faz aquilo que deixa de fazer.

Mostrar o que tem de bom? Para que? Pois o importante mesmo é se conhecer, e nesse conhecimento total e profundo, ter a certeza de que se é bom, ou então, se assim não for, sentir a vontade imensa de ser.

Valorizar o espírito? Depende, pois há espírito que não tem valor absoluto, a ponto de não precisar ser valorizado, principalmente por palavras sem valor.

Ter boas maneiras? Isto não é de todo importante, pois bons princípios já é o suficiente.

Ser de uma comunidade? Besteira, pois o interessante mesmo é ser a própria comunidade e fazer alguém pertencer a ela.

Ser Filho no Santo? Somente não dá. Bom mesmo é ter o Santo, entregar seu sorriso e segurar seu pranto, pois o seu Santo é um tanto. Afinal ele é o tamanho da paz.

Pedir a benção? Isso não é bom. Bom mesmo é querer sempre ser abençoado, a ponto de não precisar lembrar a Deus que te abençoe.

Se vestir de branco? É inútil, pois é somente uma cor. Bom mesmo é fazer da sua alma a cor da paz e não viver com e nem como obsessor.

Mostrar que tem força? Não precisa. Necessário mesmo é fortificar-se para fortalecer a quem se enfraqueceu.

Saiba que incorporar somente para se sentir útil é inútil. E se depender de mim, tudo farei para lapidar o homem que Deus fez a sua imagem.

Mensagem do Espírito Kangô – 1982