segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Umbanda, com amor e sem pré-conceitos


Creio na Umbanda , como uma religião que permite e é a “ manifestação do espírito para a caridade” e creio que: “ Não cai uma folha de uma árvore sem a permissão do Pai” e procuro ser coerente com isso.


Tenho observado muitos pré-conceitos e preconceitos na Umbanda , uma certa onda de “Purismo” que chega a ser descabida numa religião que não é fechada ou dogmática , antes pelo contrário, é evolutiva e evolui todos os dias.


Todos nós sabemos que a VERDADE , pertence a Deus e que o mais que podemos adquirir, será uma versão dela, e em geral, cada um de nós fica com a versão /visão da Verdade que melhor lhe cai ao espírito e à mente e ao coração.Vejo muitos se debaterem contra a existência de imagens, ou a permanência de pessoa que vieram de outras religiões para a umbanda e que trazem em si os conhecimentos dessas mesmas religiões, sem falar nos que mesmo estando na Umbanda tem um comprometimento com a Nação e que acabam muitas vezes sendo discriminados dentro de suas casas.


Que umbandistas somos nós? Será que seguiremos os exemplos de outras religiões e nos tornaremos simplesmente dogmáticos e fechados? Será que pretendemos ser os únicos donos da Verdade? Será que ainda não aprendemos que Umbanda é uma religião que tem que cumprir sua missão de caridade e evolução, atendendo à todos os que venham às suas portas? Será que queremos nos transformar em ritualistas mecânicos? Será que a espiritualidade não evolui? Não muda? Vamos falar sério. Umbanda é evolução e caridade, é simplicidade, foi uma religião criada para atender aos simples, àqueles que não tinham perfil para atuarem no kardecismo científico da época em que ela surgiu com nome de Umbanda... ( porque ela já existia e era praticada muito antes) a Umbanda, foi criada para acabar com o “racismo” social e intelectual.


É uma religião onde o mais importante é o Amor, a vontade de praticar o bem, de evoluir. Onde os títulos sociais pouco importam, onde a cor da nossa pele ou o poder do nosso bolso não nos faz melhores ou piores. Onde deve haver igualdade, fraternidade, e compreensão.


Assim como a Umbanda se abriu aos espíritos independente de sua características e raças no plano astral, também abriu a mesma possibilidade no plano material . Ela já nasce ensinando que embora hierarquia seja muito importante para organizar as coisas, todos temos o que ensinar e o que aprender, todos tem para dar e todos precisam receber, todos somos iguais e filhos de um mesmo Deus que nos espera, com a maior calma do mundo, pela eternidade até que cheguemos à um estágio evolutivo tal que retornemos à ele.


Precisamos nos conscientizar que ser umbandista é mais que colocar “roupa branca”, colares e guias, que fazer uma obrigaçãozinha, acender uma vela, “receber” santo... Ser umbandista é se abrir espiritualmente ao Amor, ao Amor Incondicional , à possibilidade de evolução, mesmo sabendo que não é fácil evoluir e que o umbandista ainda vai passar por muita luta... O que me dói é ver que a discriminação, a formação de facções e as piores imposições vem dos próprios membros da umbanda, que por terem rituais diferenciados, passam a achar que somente sua forma de cultuar a Umbanda é correta .


Todas as religiões que se tornaram muito rígidas em seus rituais e que se tornaram tão senhoras da “verdade absoluta” criadas por elas mesmas, acabaram gerando fanáticos que por sua vez crucificaram outros tantos que não estavam de acordo com aquilo que eles achavam ser o certo. Isso é histórico , é cíclico.


Todas as vezes que o homem em nome de Deus, e por achar que sua forma de cultuá-lo é a melhor e a mais certa, se propõe à rigidez, temos mais guerras e desgraças ocasionadas pelas suas falsas posturas morais, pela hipocrisia reinante, pela pretensão, pela ambição, pela ânsia de poder , etc... É que em nome desse ”Deus”, do qual eles criaram sua versão, fazem a guerra e massacram milhares por terem visões distintas das suas. Querem se impor como se deuses fossem , querem decidir a vida do outro , controlar tudo até mesmo Deus. E, eu me pergunto , onde ficam nisso tudo, o respeito pelo outro, por Deus e por si mesmos? Como pode um homem se intitular um representante da Verdade e de Deus na terra? Onde fica o Livre–arbítrio tão falado, especialmente pelos espiritualistas ?


Penso que cada um de nós tem seu próprio modo de entender Deus e de expressá-lo e tentar chegar à Ele. Penso que devemos nos respeitar uns aos outros , e se não gostarmos das formas como o outro cultua a sua visão do nosso Deus que é único , que nos afastemos. E deixemos que ao seu tempo esse irmão perceba qual é o melhor caminho para ele chegar ao Pai . Pode não ser o mesmo que o nosso , ou ele pode não estar preparado ainda para seguir esse caminho . Talvez um irmão ainda precise crer no fogo do inferno para se sentir mais confortável , ou outro que creia que se se suicidar e assassinar em nome de Alah, em uma “Guerra Santa” vai direto para o paraíso enquanto mata em nome de Deus e supostamente envia os infiéis para o inferno .Tudo faz parte da evolução . E toda discriminação é resultante da prepotência , da ambição , da maldade residente no coração humano , da vontade de dominar o outro , da sede de poder e do medo que o outro possa ser diferente e superior.


O que eu me pergunto é como pode um Umbandista ser preconceituoso qualquer que seja o tipo de preconceito , ser tão pretencioso a ponto de achar que sua visão de Verdade é a única correta , discriminar outras religiões , e o pior discriminar os de sua própria religião por terem opiniões e rituais diferentes dos seus . Como pode um Umbandista discriminar um espírito por achar que ele é kardecistas ou é de Nação , ou mesmo de kimbanda ? Não é a Umbanda a manifestação do espírito para a caridade ? Acaso não devemos, até por caridade, abrigar , ensinar, consolar , curar e encaminhar para o bem outros espíritos ? Seremos tão poderosos assim para podermos dispensar ajuda, qualquer ajuda, seja de que espírito seja, para fazermos caridade ? Será que somos senhores da Verdade ? Que temos que nos dividir e subdividir em facções ? Onde ficam então o amor , a caridade , a fé na onipotência do Pai que tanto pregamos aos outros ? Onde fica a humildade tão badalada nos discursos bonitos e tão pouco real em nós mesmos? Onde a União que traz a força ? Onde o respeito pelo outro e por si mesmo ?Já é tão difícil cuidarmos de nossa próprias consciências , de nossa própria vida, administrarmos nossas próprias Casas de Santo , nosso filhos e irmãos , nossa vida familiar e nosso trabalho . Como podemos então ousar nos meter e intrometer na forma de praticar a Umbanda ou nas casas alheias ?


Claro que debatemos em grupos e trocamos conhecimentos e podemos até discordar das opiniões alheias , mas temos de respeitá-las. É óbvio que devemos buscar uma união , mas essa deve ser conseguida com base no amor , na fé , intensão no bem e não como limitante e delimitante , como restrição à forma de culto do outro.Ou será que a espiritulidade da Umbanda também tem graus diferentes e que caboclos que seguem um ritual são melhores que os que seguem outro ? Será que todos os nossos caboclos , pretos –velhos e demais entidades tiveram a mesma formação , fizeram a mesma escola? Será que sãos serem sem personalidade e sem preferências , meros bonecos astrais e que não sabem o que fazem , paus-mandados de Deus que não tem nenhuma capacidade e tem que seguir um livro de receitas que nós , os encarnados estamos tentando enfiar-lhes “goela abaixo”? Será que todos os caboclos vieram da mesma tribo ? Será que toda magia só tem uma única receita , e pior , será que algum de nós acha que sabe todas as receitas ?


Se dizemos : “Não cai uma folha do céu sem a permissão do Pai “ como podemos pretender que a magia , mesmo que diferente , feita por um espírito também não seja parte do permitido por Deus ? Será que as casas de Umbanda assim como outras religiões não são diferentes porque Deus sabe que nós humanos, temos necessidades e capacidades diferentes? Como mãe , procuro atender meus filhos em suas necessidades , o mais paritariamente possível, mas eles tem necessidades diferentes , precisam de formas diferentes de atenção , tem formas diferentes de apreender conhecimentos, e eu dou-lhes conforme suas necessidades e capacidades e sou somente um pequeno espírito engatinhando na evolução . Que falar de Deus então em relação aos seus mais diversos filhos ? Seria Ele , menos amoroso e compreensivo que eu ? Pensemos nisso ...Meditemos , profundamente , para que aprendamos com a vida, observemos antes de nos metermos à sábios, se a casa do vizinho, mesmo com um ritual diferente , não está mostrando resultados em caridade e evolução. Não julguemos . Os debates , são ótimos, pois nos fazem ver novos ângulos , trocar conhecimentos , fazer amigos, mas jamais deveriam se tornar embates pessoais , jamais deveriam sair do campo da retórica filosófica-religiosa para o campo do pessoal e jamais poderiam de transformar numa discussão .


Assim também as associações devem ter por base a união pautada no respeito e não na obrigação de seguir outro “mestre” que não seja o PAI. O que todos precisamos mesmo é vivenciar mais o amor e menos nossas vaidades e pretensões individuais . Precisamos nos melhorar e assim estaremos melhorando o mundo. Precisamos compreender o outro pela ótica de vida dele e não pela nossa ( não é fácil, eu sei) . Precisamos cuidar de resgatar nosso carmas e resolver nosso próprios débitos antes de querermos ensinar os outros à fazê-lo . Até porque os carmas, assim como as vivências das almas, são diferentes . Devemos sim, estender às mãos ao próximo , mas jamais poderemos obrigá-lo a aceitá-las, ou a seguir nosso caminho conforme nós o entendemos. Nem Cristo , O Grande Mestre, obrigou ninguém a nada , ou a crer como ele ou a crer no que ele acreditava . Ele veio , deu seu recado , fez sua caridade , não atacou nenhuma religião, ao contrário seguiu todos os rituais indicado pela religião de seus pais , e espalhou a Boa Nova: “Todos somos filhos de Deus e devemos amar à Deus sobre todas as coisas e ao próximo como à nós mesmos” Isso num tempo e num local onde somente alguns privilegiados eram considerados como Filhos de Deus.


Devemos sim , como na Parábola dos Talentos , ser fiéis ao Nosso Senhor e tratar de dobrar os talentos que recebemos através do amor ao próximo e da caridade , do estudo e da evolução de nós mesmos . Devemos ser como a boa terra que ao receber a semente a faz germinar no solo da humildade, regada à fé, aquecida pelo sol do amor.


Devemos começar em nossas vidas a reforma que nos levará ao Alto , começar por nós mesmos , compreendendo e auxiliando nossas famílias , grande terreno de provas ; nossos colegas de trabalho, muitas vezes , tão difíceis de aturar ; os irmãos de santo com suas diversas experiências e expectativas , com suas formas mais diversas de perceber uma mesma Verdade; e pelos que tendo outras religiões pensam tão diferentes de nós . Devemos praticar o amor e o respeito , para sermos mais felizes .


Autora - Cristina Zecchinelli

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