domingo, 10 de fevereiro de 2013

Refletindo Sobre Estereótipos


Estereótipo é um comportamento ou discurso caracterizado pela repetição automática de um modelo anterior. Ética é um conjunto de regras de conduta. Moral é um conjunto dos princípios e valores morais de conduta do homem. Os valores emitem um juízo a respeito de algum assunto. Valores morais nos são ensinados desde o nascimento, o que é certo e errado, e a partir disso reproduzimos os valores impostos pela sociedade. Antes de mais nada, valor moral pode ser definido como respeito à vida, não apenas a própria, mas sim a coletiva, já que vivemos em grandes comunidades, dependendo uns dos outros.

Os valores evoluíram ao longo dos séculos, em função do progresso da Humanidade, de sobrevivência, variando de cultura para cultura, considerando seu valor provável, sua aprovação e reprovação social, suas vantagens, custos e riscos potenciais. A vida nos apresenta diversas situações complexas, em que necessitamos tomar decisões, e as tomamos de acordo com nossos valores, considerando as particularidades de cada situação. Dessa forma, desenvolvem-se nossas tendências, que são características comportamentais ou inclinações, que adquirimos no decorrer de diversas encarnações, algumas boas, outras más. Neste texto, pretendo me ater apenas às inclinações adquiridas em diferentes cultos religiosos, isto é, em nossas diferentes formas de adoração à Deus.

Os rituais, apesar de sofrerem diversas modificações, sempre estiveram presentes em todas as religiões no decorrer dos séculos, e naturalmente, influenciaram nossas tendências para a adoração externa. Quase todos nós respeitamos regras ritualísticas, uns mais, outros menos, que acreditamos nos purificar e nos aproximar de Deus, pois acreditamos que O estamos agradando. Sofremos influências das religiões tradicionais, tais como: seguimos um líder religioso, idolatramos Seres Superiores, aceitamos conceitos engessados, sem questionar, em nome de uma fé cega, acreditamos em absolvição e penitência através de algumas práticas religiosas, nos envergonhamos por nos acreditarmos pecadores, carentes do perdão de Deus, e em função disso apresentamos comportamentos moralistas e puritanos, que, em sua maioria, não condizem com nosso íntimo. Nós espíritas, não escapamos destes condicionamentos psíquicos também!

Peço que avaliem comigo, refletindo honestamente, vários aspectos de nossas práticas espirituais, que estão influenciadas por uma ética, ou por um conjunto de valores distorcidos e divulgados por séculos. Por exemplo, quando frequentamos um Centro Espírita, nos fazendo presentes, semanalmente, em diferentes ações de doações de amor, cremos que nada mais é preciso fazer para obtermos a paz espiritual e a felicidade suprema, e muitas vezes nos revoltamos, quando qualquer acontecimento contrário aos nossos desejos mundanos, recai sobre nossas vidas, pois acreditamos que conseguiremos o máximo, fazendo o mínimo. Não estou dizendo que todos são assim, mas muitos os são, uns mais, outros menos, e cada um sabe de si, meu objetivo aqui é trazer um novo conceito para reflexão.

Quantos espíritas nós conhecemos, que são extremamente zelosos e amorosos nos trabalhos espirituais, mas que em sua vida íntima, se mostram extremamente autoritários e inflexíveis com seus familiares. Eu pergunto o amor não deveria começar em casa? Não devemos amar ao próximo como a nós mesmos? E quem nos é mais próximo, do que a nossa própria família? Esse é um bom exemplo de um estereótipo espírita, pois ele acredita que com os rituais semanais, exima-se da responsabilidade em se reformar intimamente. Acreditam-se bons e perfeitos, mostrando-se assim nas Casas de Caridade em que trabalham, mas se esquecem de que são odiados em sua própria casa ou em seu trabalho!

Outro exemplo é a crença de que se é puro por não ingerir carne, não tomar bebidas alcoólicas, não fumar, esquecendo-se de que Jesus disse, que não é o que entra pela boca do homem, que o faz um mal homem, mas sim o que sai da sua boca, porque suas palavras e ações advém do coração! É este que precisa estar purificado, e sabemos muito bem, que não comer carne, não ingerir bebida alcoólica ou não fumar, não transforma ninguém em santo, às vezes, muito ao contrário, pois, pelo próprio sofrimento ao qual se impõem a si mesmos, se transformam em verdadeiros algozes, julgando e cobrando daqueles aos quais se julgam superiores, por não compartilharem das mesmas privações... Quanta hipocrisia! De forma alguma estou criticando essas decisões saudáveis, as quais aumentam a nossa qualidade de vida, mas daí a acreditarmos que garantam a nossa evolução espiritual, é, no mínimo, infantil e ingênuo...

Reforma íntima é transformação de sentimentos, que fortalecem nosso caráter, e isso, ocorre internamente, dentro de nós, e só nós sabemos o que se passa em nosso coração, não temos como saber o que se passa no coração de mais ninguém, a não ser que nos falem! Portanto, qualquer análise a respeito de qualquer um, que não seja de si próprio, é julgamento e está contrário ao mandamento que Jesus nos ensinou, amar ao próximo como a si mesmo, sempre cito esse, pois todos os outros mandamentos estão inclusos nesse, qualquer outro mandamento que desobedeçamos, com certeza, ferimos esse também...

Existem várias supervalorizações de atitudes consideradas perfeitas por nós espíritas, que consideramos como termômetros de nossa superioridade espiritual, e que, de maneira nenhuma, nos garante a entrada no céu... Vou citar apenas algumas, na certeza de que cada um irá encontrar as que lhe cabem analisar e alterar, para trilhar o verdadeiro caminho em busca de seu próprio crescimento espiritual.

Um bom espírita deve estar sempre sério, como se as feições alegres o impedissem de se conectar com a espiritualidade. O bom espírita não deve frequentar certos ambientes sociais, tais como um bar, por exemplo, como se divertir-se fosse um pecado, quando sabemos que o bem e o mal estão sempre presentes em todos os lugares, tanto nas casas de amor, como nas casas de diversão. O bom espírita não deve se envolver em assuntos políticos, sendo que a omissão nesse assunto, nada mais é do que cumplicidade, quando não acompanhamos e avaliamos as ações de nossos candidatos, aos quais votamos, somos cúmplices de suas falcatruas.

Separar a religião da ciência é no mínimo ignorância, pois que nossa evolução será muito mais rápida, quando essas duas forem conectadas. Tomar um passe espiritual, semanalmente, nos garante a proteção total de todos os males terrenos, como se não nos coubesse nenhuma responsabilidade em tudo o que nos possa ocorrer. Não chorar com a morte de ninguém, como se fosse possível não sofrer com a separação. Podemos chorar na despedida de uma viagem de férias, mas não podemos chorar na despedida de uma viagem de plano? No mínimo, incoerente... Considerar o dinheiro uma perdição, como se ele não garantisse o progresso mundial, bem como o conforto e a possibilidade de estudo, para que possamos aprender e modificar nosso raciocínio, por vezes, obtuso...

Um espírita que se preze, jamais será homossexual, como se o homossexualismo fosse uma aberração, e não uma condição normal, como outra qualquer, onde o respeito ao nosso livre arbítrio? O casamento é sagrado, sendo a separação de casais um atraso em nosso desenvolvimento espiritual, pois devemos pagar cada centavo de nossos pecados, e em nome dessa crença, muitas mulheres são desrespeitadas e humilhadas em nome de sua salvação...

Por trás de cada uma dessas crenças estão conceitos engessados, aos quais, como verdadeiros espíritas, devemos sempre questionar, analisar e rever, em conjunto, dentro de um ambiente de respeito e integridade, onde sejam valorizados os verdadeiros conceitos da Doutrina Espírita, ou seja, o Amor Incondicional, o Perdão, a Misericórdia, a Caridade, a Fé raciocinada. Precisamos não esquecer esses valores, para não cairmos na tentação de engolir rituais inócuos, que só nos atrasam a evolução, quando essa só é possível, através da Reforma Íntima!

Que Jesus nos abençoe em nossos corações, para que não nos percamos, jamais, na busca pela Verdade!







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