sábado, 19 de janeiro de 2013

Caridade Verdadeira


Todos nós sabemos o que é sofrimento, pois já vivemos, uma ou outra vez, situações dolorosas e complicadas, quando não, as temos como companheiras constantes... Sabemos, portanto, perceber o sofrimento alheio, com facilidade. Porém, há situações em que o sofrimento não é tão explícito, ou sendo mais específica, chega até a ser confundido com verdadeira felicidade...

Vou tentar explicar melhor, com exemplos, que talvez alguns de vocês, até se identifiquem... O poder é um bom tema para começar, quase todo mundo deseja possuir poder, seja ele verbo ou substantivo... sim, porque poder enquanto verbo, sugere ação, ou seja, quem não quer ter liberdade para fazer e realizar o que desejar??? Mas se perguntem, quantas pessoas vocês conhecem que, de fato, têm esse poder? O poder de ir e vir, de trabalhar com o que ama, de fazer somente o que gosta, de viajar, de falar o que pensa. Com certeza, vocês se lembraram de alguém que possua esse poder tão desejado e, provavelmente, não se percebem dotados desse poder...

O poder substantivo é uma realidade física, sem ação, ou seja, poder de título, de cargo, sem ação, eu mando, e me obedecem, mas não necessariamente sou respeitado... Ele é efêmero, muitos vivem diariamente para obter esse poder substantivo, deixando de viver o poder de ação. Muitos nunca o obtém, mas outros, quando atingem esse poder, se percebem vazios, tristes, solitários, percebendo que não era exatamente o que imaginavam... por exemplo o poder de reinar sobre outros seres humanos, ser invejados por quase todo mundo, mas não poder se casar com quem ama, não poder se sentar no chão com seus filhos, não poder fazer loucuras naturais, que todos nós fazemos todos os dias, e não damos o valor verdadeiro ao prazer que essa liberdade proporciona, enquanto os poderosos do reino não podem se dar a esse luxo...

Outro bom exemplo é a riqueza, quem não quer ter dinheiro sobrando? Mas ninguém se dá ao trabalho de perceber que os ricos são adulados e não amados, também se casam por interesses e sem amor, também têm que cumprir protocolos desagradáveis, sem opção de recusa, e não conseguem comprar tudo como imaginamos, pois há coisas de muito valor, mas que não encontramos nas lojas, como o amor, a amizade sincera, a saúde, a alegria e a leveza do coração...

A beleza é outro exemplo muito bom, quem não deseja ser lindo e perfeito? Muitos gastam fortunas para se manterem lindos e jovens, e eu pergunto, para que e para quem? Conheço muita gente feia feliz, e vocês, com certeza conhecem também, aliás, conheço muita gente feia, que eu até me assustei quando conheci, mas que hoje, conhecendo melhor, eu amo tanto, que nem acho mais tão feia assim, porque a beleza verdadeira vem de dentro e trás felicidade, enquanto a externa é vazia, e muitos são infelizes no amor, justamente por serem tão bonitos e desejados, mas não são aceitos e compreendidos por serem quem são, em essência, de fato... Quem não conhece alguém lindo, mas que acha chato, arrogante, metido, vazio...

Se você chegou até aqui, é porque está acompanhando meu raciocínio, e já se pegou refletindo em diversos aspectos em sua própria vida. E é sobre isso exatamente que estou querendo abordar, nem toda felicidade aparente é real, e é aí que está a possibilidade de exercitarmos a verdadeira caridade. Sim, porque é fácil compreender alguém que está chorando, quando enxergamos a fome, a pobreza, a doença, o defeito físico, a perda de alguém querido, quase que imediatamente nos sensibilizamos e desejamos ajudar, nos colocando à disposição por caridade. O difícil é exercer a caridade para aquele que julgamos mais felizes do que nós, pois é muito difícil, percebemos o seu sofrimento, aonde vemos só motivos de alegria! E é dessa caridade a que estou me referindo, quando falo em caridade verdadeira...

Não estou desmerecendo a outra, tão válida quanto essa, mas muito mais fácil de ser exercida. É fácil dar dinheiro à alguém mais pobre do que nós, é fácil ajudar uma pessoa que está doente, quando estamos saudáveis, é fácil secar a lágrima de alguém que perdeu um ente querido, quando os nossos estão felizes e saudáveis ao nosso lado!
Porém, como agimos quando somos humilhados pelo arrogante que tem tudo o que o dinheiro pode comprar? Muito raramente, pensamos: coitado, ele é arrogante porque é tão infeliz, vou orar para que ele encontre a paz em seu coração!

Descobrir o sofrimento na alegria aparente é um dom! E é aí que podemos exercer a verdadeira caridade. Perceber o sofrimento em meio a ilusão do poder, da riqueza, da beleza, da fama é uma tarefa de amor. Se nos dispusermos a procurar corações em desespero em meio a fartura, nos brilhos das festas, na soberba do poder, nas rodas de jovens, no auge da beleza e da força física, vamos nos chocar deveras, isso se vocês mesmos já não se identificaram como esses próprios corações doloridos.

Se olharmos para os outros sempre com amor, e com a vontade de exercer a verdadeira caridade, iremos encontrar corações frustrados por falta de atenção e amor, pela frieza da disciplina a que são obrigados a viver e/ou a exercer e exigir, por necessitarem se misturar com pessoas que julgam inferiores, falsas, hipócritas, invejosas, interesseiras, por estarem distantes de seus familiares por necessidade, ou por abismos irreversíveis, pelas obrigações rotineiras e massacrantes. E por viverem dentro dessas situações de sofrimento interno, se protegem, desenvolvendo dentro de si mesmas, os piores sentimentos, os quais transformam seus corações doloridos em verdadeiras rochas, sem perceberem que aumentam a própria solidão e dificultam ainda mais a aproximação de pessoas amorosas, que poderiam minimizar seus sofrimentos.

A caridade verdadeira sabe identificar esses corações, e com humildade, paciência e amor, consegue quebrar essas rochas, resgatando os corações amorosos daqueles, que antes poderiam ser seus inimigos, passando a serem seus amigos fiéis, que sempre lhes serão gratos. A caridade verdadeira é a luz no caminho daqueles que só conheceram a escuridão!


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